Escuta.
Sofre.
Acompanha.
Ouve os desabafos.
Carrega as compras.
Sente as dores.
Cozinha.
Faz sorrir.
O pai doente.
Ajuda a levar.
Ajuda a buscar.
Todo mundo sabe.
Todo mundo vê.
Menos quem deveria apoiar.
Menos quem deveria estar do lado.
Parece não saber.
A família nunca se importou com as suas conquistas.
E foram tantas.
Conquistas acadêmicas.
Vencer sozinha uma tristeza profunda.
Conseguir seus clientes.
Seu trabalho.
Sem depender de um real que não fosse da sua mãe que ajudou.
Com o dinheiro da passagem
Comprou lanche
Pagou material
Tirou xerox
Subia e descia a pé
Não tinha calça de marca
Tênis de marca
Roupa de marca
Não pagou faculdade
E estudou em escola particular sim até a primeira série
Diferente dos seus irmãos
Era só se aproximar pra conhecer a história dela
Mas ninguém queria admitir
Todas as suas formaturas quem estava lá?
Sua mãe.
E duas delas o pai, convencido pela mãe
O pai fingia que era pai
Mas ninguém na escola nunca viu
Não sabia se precisava de ajuda em matemática e nem se queria aprender alemão.
Tudo que sabia era contado pela mãe
Pai que é pai tem presença
Esse não
A não ser que fosse pra mandar e impor
E se fazer soberano
Drenou a mãe, drenou a filha
E nunca desceu do pedestal
Nunca humilde
Nunca adulto
Hoje ela se sentiu lesada e ofendida mais uma vez
"Você faz tudo sozinha"
Disseram pra sua mãe
Na frente dela
Na frente dela
E ignoraram todos os anos
Sendo o tapete da família
Pode pisar
Pisa mais
Pisa nela
Quanto mais dor ela suporta
Mais forte ela fica
E ela sabe