sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Carta para minha pele de trinta anos

Eu não sei que idade eu tenho, mas minha pele tem trinta anos. Meus ossos, meus órgãos e músculos também tem essa idade.
Eu não. Tem dias que eu posso jurar ter quase oitenta pela disposição de sair, ou melhor dizendo, pela falta de disposição mesmo.
Mas minha pele está aqui, contando para mim as horas que se passaram. Ainda sou jovem, ainda estou viva. Temos trinta anos somente.

No entanto, tem dias que me sinto tão curiosa e despreparada pra vida, que se me perguntarem vou dizer que tenho apenas cinco e absolutamente cinco de idade mental, mas minha pele vai gritar comigo: "Temos trinta, sua velha." E eu vou cair numa tristeza absurda por acreditar que não posso cometer tantos erros como quando eu tinha cinco.

E minha idade chega variando em até quinhentos anos mais velha, mas minha pele fica ali o tempo todo retrucando meu tempo.

Minha pele mente.

Tenho a idade que eu bem entender. Se eu fechar os olhos, nem ouvirei minha pele me condenando. Claro que os órgãos me atentam as vezes, mas nada é tão chato igual o maior deles. Maior órgão e mais reclamão!

Pois digo a você, pele de trinta anos, que mesmo quando você tiver cem anos, vou ter dezoito se eu quiser.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Honestamente

Você está morrendo e ninguém vê
Quando se assusta não há mais saída
A dor que te sufoca
Já se tornou melhor amiga
A paz que surgiu foi do enterro da sua alma

Ninguém se importa realmente
Se você está doente
Se esse vazio na sua vida
Te impede de viver
As pessoas não querem saber

Ninguém vai atrás de você
Irão no seu velório
E vão chorar a perda de nada
Porque nada fizeram
E nada queriam fazer

Importa mais uma dor na cabeça
Do que a dor que a cabeça carrega
Importa mais um corpo com febre
Do que uma infecção de pensamentos ruins
E você se afunda cada vez mais

E ninguém quer te salvar
Porque são todos vazios da verdade e cheios de si mesmo
E a realidade é que
todos vão ser velados com falsas lágrimas
De pessoas que nunca se importaram sequer uma vez

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Shhh!

Eu fujo
Tenho medo
Passo dias de solidão
Crio outra realidade
Por que não?

Eu gosto de ficar quieta
Calada e na minha
Mas gosto da companhia
Quando não invade meu espaço
Gosto de ficar livre, dentro do meu pedaço de vida

Me deixa ou fica
Mas se ficar não me impeça
De ter um momento meu

Shhh! Estou ouvindo o silêncio
Ou uma tentativa de ouvir meus pensamentos
Resolvendo meus problemas por mim
Shhh! Tem barulhos de qualquer coisa eu sei
Mas nada que me desconcentre
Shhh! Quero a paz de um sábio budista nesse momento

Estou fugindo para dentro de mim
Shhh! E vou ficar assim
Por quanto tempo eu bem entender

Sem se ver

Era um desses amores impossíveis
Mas não era qualquer um deles
Eram gêmeas, as almas
Falavam de amor e carinho
E traduziam isso sem nem se ver

Mas na vida as paixões sorrateiramente te levam à insanidade
Querer mais do que tudo
Fazer mais do que pode
Deixar o que você não deve
Dever o que você não consegue pagar
Agir como você não deve ser
Ser quem você não é

E é numa dessas que você enlouquece
Perde a noção
Pede perdão
Sem ter razão
E perde a razão
E não tem noção

E quando acontece
Você tem que fugir
Sumir
Correr
Sair
Mudar
Mesmo que vá doer
Abandonar

E vai doer
E vai machucar
Mas antes agora
Do que esperar
Ia doer muito mais

Mas choro
Por planos que não fiz
Por um futuro que deixei
Por uma ilusão de que tudo
Podia ter sido real

Você foi meu amorzinho
Eu fui o seu
Você foi a coisa mais linda do meu dia
Quando eu te ouvia
Falando qualquer: meu bem.
Porque eu fui sua e você minha
Mesmo sem te ver

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Oh! Minas Gerais

Nessa lama tem sangue
Nessa lama tem dor
Nessa lama tem lágrimas
Nessa lama tem história
Minas foi saqueada
Foi explorada
Foi destruída
Foi arrasada
Minas foi contaminada
Minas foi abusada

A água era pura
Os rios eram doces
O doce virou amargo
Por detritos capitalistas

E Mariana era uma cidade linda
Com nome de moça
E por ser uma moça
Acabou sendo vítima de homens cruéis

E o percurso do rio
Vai matando tudo no caminho
Vai arrasando, destruindo
Aniquilando sem dó
E por cima da memória
Lama vermelha e pó
E pior,  sem guerra sem nada
E quem tenta lutar é calado

E o silêncio é da vida e da água
Que não existem mais
Do desastre que não volta atrás
Oh! Minas Gerais...

Oh! Minas Gerais!
Quem te conhece
Não perdoa jamais
Oh! Minas Gerais...